
Impressões
No final dos anos 1950 e início dos anos 1960, Frans Krajcberg se afasta da pintura. Ele busca novos processos para entrar em contato com a matéria de maneira mais direta. Realiza colagens e xilogravuras, e cria suas primeiras “impressões diretas” em madeira. Impressões, gravuras, assemblagens ou tratamentos cenográficos... sua intervenção artística integra diretamente o elemento natural na obra, uma exaltação recíproca que Paul Klee chamava de “a alma da criação”! A ausência de moldura e margem ressalta a originalidade de uma obra “bruta”, que se distancia da pintura de cavalete. Com essa abordagem, ele é o primeiro a utilizar a interpenetração da pintura e da escultura de forma tão acabada.
Com a gravura, mostra-se igualmente audacioso e pioneiro. Suas experimentações são reconhecidas como únicas. Frederico Morais, o grande crítico de arte brasileiro, preferia usar o termo “anti-gravuras” para falar de suas impressões. Mais uma vez, preferindo ignorar o ateliê — que ele chama de “cozinha da gravura” — Frans Krajcberg despreza a relação entre matriz e cópia, e busca sua inspiração diretamente nas rochas ou resíduos minerais.
Em 1958, ele viaja para Ibiza, onde retorna regularmente até 1965. Na ilha, vive com o mínimo, sozinho em uma caverna próxima ao mar, e começa a se dedicar à fotografia. Ela lhe permite exercitar o olhar diariamente, aguçando sua sensibilidade. Realiza suas primeiras “impressões de rochas e terras” e quadros compostos por fragmentos naturais. “Fugi para trabalhar. Fui para Ibiza. E pela primeira vez senti a necessidade de tocar a matéria, não a pintura. Fiz impressões de terra e de pedras. Depois, colei diretamente a terra. Parece uma espécie de tachismo. Mas não é. Não é uma pintura lançada. Não há gestual pictórico. São impressões, registros. Fragmentos da natureza. Depois disso, não consegui mais trabalhar em Paris. Onde encontraria minhas terras?”
Ele também utiliza a técnica de estampagem direta sobre papel japonês umedecido. Único intermediário entre ele e a rocha, o papel permite captar todas as marcas gravadas no solo. Solo e papel são ao mesmo tempo matriz e receptáculo, impressão e corpo. A terra incha e respira, as veias da rocha se preparam para receber a cor e deixam estigmas sobre o papel imaculado. O resultado é surpreendente — cada obra é única e pode medir até dois metros de comprimento.
A partir dos anos 1970, instalado em Nova Viçosa, no Brasil, Frans Krajcberg realiza “impressões de areia”, moldadas diretamente na praia durante a maré baixa. De frente para o mar, ele observa durante horas o vai-e-vem das ondas e a força alternada dos ventos, enquanto a água, ao se retirar, inscreve na areia um repertório ilimitado de sulcos e ondulações que ele registra diretamente em papel japonês, sem cola, antes de moldá-los em gesso. Estampados no verso do papel, revelam a textura do solo — “a pele do mundo” — nos mínimos detalhes. A inscrição matricial, restituída grão por grão, pode então ser montada sobre tela ou madeira.
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Essas apropriações de elementos naturais, para além do gesto artístico que exalta sua beleza, conferem aos objetos escolhidos e remodelados o status de obra de arte. Por meio disso, eles imortalizam um fragmento de vida condenado, assim como o homem, ao desaparecimento. Frans Krajcberg encontra aí uma nova maneira de fazer o luto diante do mundo.
Nos anos 1980, Frans Krajcberg realiza suas impressões vegetais policromadas. Sua intervenção se impõe de forma mais significativa. Para realçar a beleza dos elementos naturais que coleta, ele escolhe as cores vivas dos pigmentos naturais das minas a céu aberto de Minas Gerais. Ele mesmo vai buscá-los e os aplica diretamente nas formas escolhidas, sem hesitar em destacá-las com preto. Uma nova forma de reconectá-las à Mãe Terra, mas também uma escrita muito reconhecível que se torna sua assinatura.




