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Filmes e fotografias

Frans Krajcberg encontrou na fotografia um meio de cumprir sua missão artística com uma arma muito mais poderosa do que a simples estética. Seu testemunho é indiscutível e pode ser reproduzido infinitamente. Ele não se considera fotógrafo, apesar da grande qualidade de suas imagens. A fotografia é a ferramenta ideal para denunciar o drama que está acontecendo: a destruição da natureza, imagem congelada de um mundo que desaparece para sempre.

Por trás da lente, Frans Krajcberg manteve uma força de encantamento intacta, olhos e alma em constante alerta. Todos os dias, ele trabalha seu olhar de artista e alimenta sua “revolta” fotografando incansavelmente os detalhes dessa natureza que o fascina e cuja força de resiliência ele admira. A fotografia se tornou indispensável para alertar em grande escala e transmitir sua mensagem às futuras gerações.

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Pierre Restany, no Manifesto do Rio Negro, fala da humildade e da disponibilidade do olhar do fotógrafo: «Praticar essa disponibilidade em relação ao dado natural é admitir a modéstia da percepção humana e seus próprios limites, diante de um todo que é um fim em si mesmo. Essa disciplina na consciência dos próprios limites é a qualidade primordial do bom repórter.»

Milhares de fotografias tiradas por Frans Krajcberg mostram a natureza destruída voluntariamente pelo homem. O fogo é uma «realidade» cuja ação de destruição é irreparável. As imagens não revelam apenas o horror, mas colocam em confronto a beleza da natureza e seu desaparecimento; a diversidade das cores das terras de Minas Gerais e a escuridão das queimadas do Paraná; a magia e a transparência das pedras indestrutíveis e a duração efêmera de uma flor; a fragilidade de um broto jovem e as cinzas de uma velha árvore milenar.

A técnica macrofotográfica que ele utiliza fornece imagens impressionantes, revelando a menor partícula em movimento: as nervuras de uma folha, o pistilo de uma flor, a textura da terra, o percurso dos pequenos animais e insetos, as marcas de uma cobra no solo, o labirinto de uma teia de aranha, a transparência da pele de uma larva…

Mais raros, seus filmes permitem captar os movimentos da vida em câmera lenta, quase imóveis, um olhar fascinado que segue o menor tremor. Sua câmera oferece uma nova ferramenta para captar os movimentos imperceptíveis da água, do vento ou da luz. Sob seu olhar surgem obras pictóricas, frequentemente abstratas, com uma beleza plástica perfeitamente controlada.

Filmes e fotografias magnificam a própria vida mesmo quando as imagens testemunham a destruição: as árvores perderam sua verticalidade original para formar uma nova paisagem; terras brancas – produto das queimadas – tomaram o lugar dos campos verdejantes… o mundo vegetal se transformou em mundo mineral, vazio de toda substância animal… mas uma folha emerge, uma flor renasce… no meio das cinzas… a vida reaparece, infinitamente frágil e bela.

Frans Krajcberg, mais uma vez, escolhe montar, revelar para provar e resistir. «Minha obra é um manifesto. Não sei escrever, não sou político… Tenho que encontrar a imagem que caracteriza meu grito de revolta. A fotografia me ajudou a captar o momento da beleza, da destruição, a registrar o que desaparece.»

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Frans Krajcberg, Queimadas, État du mato Grosso, Brésil, circ 1980, impression sur dibon,

Queimadas

Para Frans Krajcberg, sua obra é um manifesto permanente: «Não sei escrever, não sou político… Preciso encontrar a imagem que caracterize meu grito de revolta. A fotografia me ajudou a capturar o momento da beleza, da destruição, a registrar o que desaparece… Sou um homem queimado. O fogo é a morte, o abismo. O fogo está comigo desde sempre. Minha mensagem é trágica. Eu mostro o crime.»

O trabalho fotográfico de Frans Krajcberg sobre o desmatamento na Amazônia é sua forma de exorcizar os traumas da guerra, onde ele perdeu toda a sua família. Seu testemunho é brutal, deliberadamente chocante, às vezes realizado sob risco de vida — ele recebeu várias ameaças de morte.

Suas fotos de árvores em chamas, tortas, avermelhadas, meio em cinzas, denunciam e mostram o que se recusa a ver. No entanto, elas continuam portadoras de esperança para quem abre os olhos. Em meio às cinzas que cobrem o solo, surge uma raiz, um embrião de samambaia ou uma flor delicada, promessa de um renascimento.

«Estamos diante de um discurso poderoso que nos revela, sem nenhuma renúncia, a violência de que somos capazes contra a natureza. Krajcberg é um educador, que nos transmite, por meio de suas obras, um ensinamento decisivo para todos nós: não há futuro sem equilíbrio, sem um pacto natural», destaca Juliano Souza Matos.

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