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Novo Manifesto do Naturalismo Integral
Frans Krajcberg e Claude Mollard, 2013
Trinta e cinco anos após o Manifesto do Naturalismo Integral de Pierre Restany, Frans Krajcberg e Claude Mollard lançam o Novo Manifesto para afirmar a primazia da arte de ver a natureza como fonte de criação.
Diante da globalização ameaçadora, reivindicam o direito à diversidade e o dever de respeitar o planeta: de forma integral e radical. Querem mobilizar artistas e cidadãos do mundo e engajar um movimento global de iniciativas a serviço da criação artística mais inovadora e autêntica. Também querem conscientizar a opinião pública sobre a crise do planeta, ocultada por uma coalizão de interesses cegos.
O Movimento do Naturalismo Integral nasce em 1º de janeiro de 2013.
“Ao querer impor sua lei à natureza, ao querer criar contra a natureza, o homem condena a si mesmo.”
Pierre Restany – 1978
“Ao aceitar as práticas bárbaras dos homens contra a natureza, o homem contemporâneo hoje iniciou o processo de destruição do planeta que o conduz à sua própria destruição.”
Frans Krajcberg e Claude Mollard – 2013
O século XXI ainda não abriu caminho para uma criação artística resolutamente comprometida com o equilíbrio do planeta, seu ambiente e seus habitantes. Denunciamos essa impotência.
Esmagada pela globalização das culturas e das economias, a arte perde seu sentido, enquanto o domínio universal das finanças gera especulações descaradas e bolhas artificiais. Denunciamos o domínio dos mercados sobre a arte, com seus males e impasses.
Lançamos um grito de alerta para que a arte reencontre o sentido da natureza, da medida e da harmonia, e recupere sua posição de vanguarda a serviço de valores de liberdade, dignidade e respeito.
Publicamos o “Novo Manifesto do Naturalismo Integral” para engajar um movimento que mobilize a expressão de uma consciência planetária.
Novo Manifesto do Naturalismo Integral,
Frans Krajcberg e Claude Mollard – 1º de janeiro de 2013

Reconhecemos na natureza uma fonte ilimitada de inspirações, conceitos, pesquisas e formas.
Reivindicamos, como dever e direito, a total diversidade das expressões, um laicismo sem concessões, uma liberdade integral de criação.
Dirigimo-nos aos artistas e também aos cidadãos do mundo que não querem permanecer espectadores passivos da destruição de seu planeta.
Mais do que nunca, o artista deve estar no centro de todo projeto de civilização, sendo ao mesmo tempo artista e cidadão do mundo, integral e radicalmente.
Pierre Restany terminava o Manifesto do Rio Negro com estas palavras: «A natureza originária deve ser exaltada como uma higiene da percepção e um oxigênio mental...»
1. Os termos do Manifesto do Rio Negro de 1978 devem ser reafirmados e radicalizados.
Em 1978, a ecologia ainda balbuciava e o Manifesto do Rio Negro foi a primeira tomada de consciência do potencial formidável da natureza na expressão artística. Para Pierre Restany, tratava-se então “de lutar muito mais contra a poluição subjetiva do que contra a poluição objetiva, a poluição dos sentidos e do cérebro...”
Hoje, a crise do planeta tornou-se uma realidade evidente que exige respostas urgentes.
A destruição da floresta Amazônica está em curso, ao preço da eliminação inevitável, e infelizmente silenciosa, dos povos indígenas. O derretimento do gelo polar acelera, o aquecimento global está em andamento. O aumento da população mundial alimenta a pobreza, favorece as guerras e serve de terreno fértil para o desenvolvimento dos fanatismos religiosos e políticos.
Os direitos humanos e o laicismo são cada vez mais desrespeitados. Os poderes políticos nacionais e internacionais abdicar frente às finanças globais.
A crise da arte denunciada por Pierre Restany então se ampliou.
A multiplicação dos investimentos financeiros invocados para expressar um avanço na democratização das artes acaba, na verdade, por promover uma grande empresa internacional de entretenimento.
2. O compromisso do artista contemporâneo é a condição para a renovação da criação.
No momento em que nunca se exibiu tanta arte contemporânea, ela se mostra cada vez mais desconectada da realidade social, econômica e política. Foca-se no indivíduo e em suas hesitações.
Não anuncia mais, apenas ilustra. Não antecipa, apenas acompanha. Não denuncia, apenas oculta.
Os movimentos intelectuais que ligavam inovações artísticas a compromissos políticos e sociais desapareceram.
Tornaram-se temas de estudo ou de exposições. A prática artística não é mais um compromisso coletivo, mas uma carreira individual. Isolados, os artistas são menos perigosos. Eles não dirigem mais a cena artística, tentam apenas aproveitá-la. A arte virou mercadoria cotada. Oscila entre especulação intelectual e especulação mercadológica. Torna-se estratégia de poder. Perde seu alcance crítico.
Reafirmamos o papel essencial do artista, quando ele é cada vez mais relegado ao papel de simples decorador, que “os donos do mundo” esperam que disfarce as crises em vez de denunciá-las.
3. O Naturalismo Integral chama uma ética da criação artística.
O Naturalismo Integral é não apenas uma atitude de combate, mas também um estímulo ao pensamento.
Opondo-se integralmente à exploração destrutiva da natureza e à transformação da obra de arte em objeto descartável de consumo.
O Naturalismo Integral se concebe como uma ferramenta para o desenvolvimento artístico sustentável.
Ele se insere mesmo no espaço-tempo do cosmos.
O Naturalismo Integral liga as culturas mais contemporâneas às mais ancestrais.
Apela à consciência dos “Magos da Terra”.
Afirma a necessidade das forças do espírito e busca as condições para seu aparecimento desde as origens da vida.
O Naturalismo Integral retoma as vanguardas que anteciparam as grandes mutações técnicas e urbanas, as conquistas dos direitos dos cidadãos, a libertação e o desenvolvimento da imagem.
O Naturalismo Integral apela à “expressão de uma consciência planetária”, capaz de indignar-se, mobilizar-se e agir.
4. O Naturalismo Integral compromete-se a proteger a natureza, catalisadora e mobilizadora de imaginários.
A luta ecológica fará vibrar o coração imaginativo da sociedade se souber levar em conta a dimensão artística e cultural do planeta.
As criações atualmente dispersas dos artistas que escolheram expressar-se na natureza, para ela, por ela, com ela e sobre ela, ganharão em ser reunidas e reforçadas na escala planetária, num diálogo decididamente intercultural.
O Naturalismo Integral favorece o surgimento de um movimento artístico mundial e diversificado em torno do papel unificador da preservação dos equilíbrios fundamentais do planeta.
5. O Naturalismo Integral privilegia o ato criativo fundado na visão e na busca de sentido.
O universo natural é um reservatório ilimitado de espécies e formas animais e vegetais. O olhar sobre o objeto ou ser natural é um ato artístico, pois a arte de ver é em si criativa: aprende-se, pratica-se, cultiva-se e transmite-se.
O Naturalismo Integral acrescenta ao naturalismo científico uma dimensão poética.
Coloca a seu serviço as tecnologias contemporâneas que ampliam ou detalham a visão do mundo, exaltando assim sua beleza em todas as suas dimensões, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande.
O Naturalismo Integral dá sentido e coerência à miríade de obras de arte criadas desde os anos 1960 em referência à natureza, sob todas as suas formas.
6. O Naturalismo Integral investe sem limites na criação, privilegiando práticas modestas da arte.
O Naturalismo Integral procura representar em imagens e formas artísticas a multiplicidade das invenções da natureza, para revelá-las ou inspirar-se nelas como modelos ou motores de energia.
Para o Naturalismo Integral, arte não se resume a uma produção, é também um modo de vida em harmonia com a natureza.
O Naturalismo Integral compromete cada geração a transmitir aos seus filhos a parcela do planeta Terra que herdou e recebeu para cuidar. Cada geração deve se empenhar em eliminar integralmente os danos causados à sua integridade pela geração anterior.
“Praticar (a) disponibilidade em relação ao dado natural é admitir a modéstia da percepção humana e seus próprios limites.”
(Pierre Restany)
7. O Naturalismo Integral é uma resposta à globalização.
O Naturalismo Integral cultiva a arte de ver para renovar a arte de pensar e de ser.
O Naturalismo Integral se dedica a compreender melhor os mistérios da natureza. É também um método que favorece as ciências cognitivas do planeta e do cosmos.
O Naturalismo Integral combate integralmente todas as empresas humanas que conduzem à desaparecimento de toda diversidade numa globalização perigosa por negar ou menosprezar a realidade da natureza.
Favorece, ao contrário, o diálogo e o encontro das culturas e dos gêneros.
Cabe ao artista tirar dessa metodologia a força para reencontrar um lugar essencial na sociedade, da qual deve ser, mais do que nunca, o alfa e o ômega.