
© Luiz Garrado
Sua abordagem: O Naturalismo Integral
As obras de Frans Krajcberg atravessaram o século XX sem envelhecer. Sua mensagem é mais atual do que nunca. Obras e mensagem estão tão intimamente ligadas que é difícil dissociá-las. A natureza é uma oficina a céu aberto onde ele busca sua inspiração. Ela também justifica seu papel como artista.
Artista atípico: formado, segundo os critérios da época, na Escola de Belas Artes de Stuttgart, não cessou de se desvincular de todas as correntes artísticas reconhecidas para se expressar de forma muito pessoal, com obras sem título, sem data, cujo poder de emoção permanece intacto.
Artista protéico: utilizou todos os suportes (pintura, escultura, fotografias e até a câmera…), misturando disciplinas clássicas e contemporâneas sem restrições.
Nos anos imediatamente após a guerra, ele prefere fugir para Ibiza e o Brasil a se integrar nos círculos artísticos que frequentava. Desenvolve diante da natureza uma grande capacidade de observação e de encantamento e, desde cedo, o desejo de testemunhar e agir.
Para ele, a Arte não é um fim em si mesma, mas um meio de nos alcançar, de passar uma mensagem, de compartilhar sua "revolta". Ao longo de sua vida, ele “trabalha” formas, busca incansavelmente novos modos de expressão para cumprir sua missão.
Impressões, colagens, sombras, madeiras queimadas, mas também fotografia e câmera, servem-lhe para comunicar sem fronteiras. Ele confia às suas obras o papel de "gritar" em seu lugar.
A convicção de ter encontrado na expressão artística um meio excepcional para defender a natureza foi adquirida em Paris, nos anos 1960. Enquanto a abstração e a pintura informal estavam em declínio, as questões ambientais surgiam, pela primeira vez, nos debates políticos e sociais.

© Luiz Garrado
Em 1978, eles partiram para descer o Rio Negro com o pintor Sepp Baendereck.
Longe de tudo, no coração da Amazônia, eles refletiram longamente e confrontaram seus pontos de vista sobre o papel da Arte e do Artista em nossa sociedade. O diário do Rio Negro relata esse caminho que se tornou a base do Naturalismo Integral. Para ambos, a natureza passaria a estar no centro das questões culturais e artísticas.
“Essa natureza da Amazônia é tão poderosa que se impõe a mim como uma verdadeira disciplina. O Amazonas será a universidade, a alma mater, a grande escola da minha percepção”, declara Pierre Restany. Por sua vez, Frans Krajcberg se confirma na visão que se impôs a ele ao chegar ao Brasil. Os fragmentos da Natureza são, em si mesmos, obras de Arte.
O artista deve revelar sua beleza ao mundo para evitar sua destruição. Essa “verdade” se impõe a ele “como um chamado à ordem moral da nossa cultura”. Elementos, árvores, homens, plantas ou animais formam um todo indissociável.
“A natureza da Amazônia questiona minha sensibilidade de homem moderno. Ela também questiona a escala dos valores estéticos e artísticos tradicionalmente reconhecidos. Aqui estamos diante de um mundo de formas e vibrações, diante de um mistério em perpétuo movimento...”.
A partir de então e até o fim de sua vida, Frans Krajcberg nos convida a olhar a Natureza como uma obra de arte. Fonte inesgotável de inspiração, ela lhe proporciona um deslumbramento constante, que ele compartilha conosco. “Captar a menor partícula de sua fugacidade, mostrá-la em sua beleza crua ou em seu movimento conforme as horas do dia, observar o sol, o vento e a água entrarem em ressonância com ela...”. Inicialmente fascinado pela infinita diversidade de cada pedaço de matéria bruta, ele escolhe dar às suas obras o papel de “gritar” em seu lugar: “Às vezes, eu caio na beleza. Uma árvore atingida pelo fogo pode ser bela, mas se você entrar na sua história, é trágico. Eu gostaria que minhas esculturas gritassem, mas como fazer? Às vezes penso que elas ficaram bonitas demais e não gritam mais. Às vezes, quanto mais violentas, mais entram na estética, então posso pensar que a morte pode ser bela.”

© Tim Carrol, 1993
Artesão dedicado: praticou todas as técnicas ao seu alcance e inspirou-se em todos os métodos tradicionais ou experimentais.
Pioneiro: afirmou-se desde as décadas de 1980/1990 como um dos pais do movimento do Antropoceno, que atribui ao Homem um papel determinante no equilíbrio planetário.
Artista militante: foi assim desde muito cedo e será, até o fim de sua vida, uma testemunha ativa que denuncia e alerta. Para ele, o Artista está "no coração de todo projeto de civilização, integral e radicalmente".

© Luiz Garrado
Artistas como Joseph Beuys e Hans Haacke questionam o papel da Arte nesse período de transformações. O homem civilizado gerou um mundo invadido por objetos manufaturados, extraindo incessantemente as riquezas da natureza. É tempo de tomar consciência de sua vulnerabilidade.
No final dos anos 1960, a Arte Povera, e depois o Land Art nos anos 1970, exploram novos caminhos e buscam nas matérias-primas e na paisagem novas fontes de inspiração. Mas enquanto a Arte Povera age em espírito provocador para rejeitar a Op-art, Frans Krajcberg retém a ideia do movimento. Para ele, os materiais que o inspiram não são “pobres”, pelo contrário! Sua beleza fala por si só, mesmo quando se trata de denunciar a destruição da natureza pelo homem. E ao contrário do Land Art, ele não intervém na paisagem; escolhe elementos naturais que transforma para os enaltecer, usando códigos artísticos que ele desvia.
Frans Krajcberg também se diferencia dos Novos Realistas, movimento fundado por Pierre Restany durante essa época crucial. A princípio, o crítico e historiador de arte considerava o processo de apropriação da natureza por Frans Krajcberg como uma abordagem bastante próxima. Os Novos Realistas trazem um olhar renovado sobre os objetos artificiais e manufaturados (criados para atender às necessidades da vida urbana) e assim revelam sua realidade poética. Segundo ele, essa é a única saída possível para renovar a Arte Contemporânea.

© Luiz Garrado
Para ele, Natureza e Arte são agora indissociáveis. “Sou um homem totalmente ligado à natureza, da qual dependem minha sobrevivência e minha criatividade... A natureza me deu força, me proporcionou prazer ao sentir, pensar, trabalhar. Sobreviver. Eu caminhava pela floresta e descobria um mundo desconhecido. Descobria a vida. A vida pura: ser, mudar, continuar, receber a luz, o calor, a umidade. A verdadeira vida: quando estou na natureza, penso verdadeiramente, falo verdadeiramente, questiono verdadeiramente. Quando a observo, sinto como ela se move: nasce, morre, a continuidade da vida. Eu tinha construído minha casa na floresta. Um gato selvagem me adotou. Eu colecionava orquídeas. Provavelmente tive a maior coleção de orquídeas do Brasil.”
A segunda metade do século XX lhe deu tempo para forjar as ferramentas artísticas que levariam sua mensagem e fariam ecoar seu grito de revolta:
“Minha obra é uma longa luta amorosa com a natureza. Eu podia mostrar um fragmento dessa beleza. Eu o fiz. Mas não posso repetir esse gesto infinitamente. Como fazer meu este pedaço de madeira? Como expressar a consciência que tenho dele? Onde está minha participação nessa vida que me inclui e me ultrapassa? Até agora, não dominei a natureza. Aprendi a trabalhar com ela.”
O início do século XXI lhe permitiu expressar-se e gritar com força, usando como única arma a beleza evidente e o fascínio imediato de suas obras.
Incansavelmente, até sua partida em 2017, ele criou e fez ecoar sua mensagem de artista revoltado, contra a destruição da natureza, para preservar o planeta e transmiti-lo às futuras gerações.