top of page

Seu ateliê

Maison FK.jpg

Seu ateliê no alto de Nova Viçosa

Frans Krajcberg vivia em uma casa-ateliê em Nova Viçosa, no Brasil… que ele havia construído no alto de um galho de uma árvore imensa! Ele teve essa ideia após longas conversas com seu amigo arquiteto, José Zanine Caldas, outro nômade visionário cujo material preferido também era a madeira.

 

A história de sua casa é a realização de um sonho para o artista. Tudo começou em 1967, quando um amigo lhe ofereceu o enorme tronco de uma árvore milenar chamada “pequi”, que havia sido cortada. Essa não era uma árvore comum, era o rei da floresta amazônica: Frans Krajcberg ficou maravilhado. Ele não levou a árvore inteira, apenas um dos galhos, que era gigantesco... tinha 2,60 metros de diâmetro e pesava 40 toneladas. Foi um verdadeiro desafio transportá-lo, instalá-lo e construir sua casa no topo... a 10 metros do chão!

Viver empoleirado nas árvores como um pássaro, suspenso entre céu e terra, era para Krajcberg uma forma de estar em harmonia com a natureza. Como se sua casa-ateliê existisse desde sempre, ela se integra perfeitamente ao ambiente. É rodeada por uma varanda arejada e iluminada. No interior, Krajcberg revestiu várias paredes com folhas que colheu durante seus passeios. Paredes como telas de pintor, um papel de parede camuflado!

Dessin Maison.jpg

Como dizia sua amiga Thérèse Vian em 2003, quando preparava a exposição Arte e Revolta no Museu de Montparnasse: “Para Krajcberg, esta casa corresponde à importância que ele atribui à natureza e ao lugar que ela iria ocupar em seu trabalho artístico e em sua jornada existencial. Ele precisava unir arquitetura e arte, criar uma casa como uma grande escultura, viva e habitável, cuja unidade plástica pudesse se afirmar como uma verdadeira instalação, no sentido do trabalho bem feito e realizado. Ela seria a integração total das formas da natureza, fundamentais na obra do artista. Em perfeita harmonia com a verticalidade e a horizontalidade, ele soube manter intactos os laços entre o céu e a terra.

Krajcberg trabalha no projeto de uma casa suspensa em uma árvore que lhe daria uma leveza extraordinária e realizaria seu velho sonho: sentir-se suspenso entre a terra e o céu e, assim, proceder a um retorno à vida primitiva. Essa casa, ele a quer intimamente ligada ao seu ambiente, sem deformar nem violentar o que a rodeia, como se ela existisse desde sempre.

 

Ele é fascinado pela ideia de reunir aqui os quatro elementos: a terra aos pés da árvore, que atua como a imagem primordial da terra-mãe, fértil e acolhedora; o ar que circula em torno, elemento sutil, princípio ativo e masculino; as águas do mar e do Mangue, que simbolizam a materia prima, vindas do céu para fertilizar a terra. O fogo, finalmente, presente em todos os rituais iniciáticos de transformação, representa a morte e o renascimento de toda vida (mineral, vegetal, animal ou humana).”

Naquela época, José Zanine Caldas e Frans Krajcberg, cada um à sua maneira, tomam consciência da realidade local. Como ressalta Marie-Odile Briot, curadora da exposição Moderninade, no Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris em 1987:

“Cada um encarna, um na arquitetura, o outro na escultura, a expressão mais plena desse material (a madeira), dentro de uma mesma estética: o repúdio à uniformidade ‘tecnocrática’ do Estilo Internacional como única expressão da modernidade. Eles opõem a esse nivelamento universal do imaginário, uma invenção das formas a partir de materiais locais. O enraizamento da modernidade na matéria e na memória ativa se assemelha à sensibilidade do Tropicalismo que então ganhava as artes.”

A Tropicalia de Hélio Oiticica, de 1967, representa para ele uma das primeiras tentativas no Brasil de uma tomada de consciência objetiva, para impor uma imagem tipicamente brasileira no contexto vanguardista da época. Frans Krajcberg também retoma aqui um aspecto do modernismo: o Pau Brasil / Madeira do Brasil de Oswald de Andrade, de 1924.

bottom of page